terça-feira, 18 de janeiro de 2011

De Rubem Alves

Embora temos os jornais pela Internet nao perco a oportunidade gratificante
que a Folha de Sao Paulo me da de degusta-la vinte dias gratis, assim como
recortar e guardar algumas colunas como de Rubem Alves e outros.
Fui guardar essa de 14/Dez/ 2010,e nao me contive em transcreve-la....
.A ARVORE QUE FLORESCE NO INVERNO
Os sinais eram inequivocos. Aquelas nuvens baixas e escuras...
O vento que soprava desde a vespera, arrancando arvores folhas amarelas
e vermelhas. E, o inverno estava chegando.Deveria nevar.
Viriam entao a tristeza,as arvores peladas,a vida recolhida para funduras
mais quentes, os passaros ja ausentes, fugidos para outro clima, e aquele
longo sono da natureza,bonito quando cai a primeira nevada,triste com o
passar do tempo... Resolvi passear,para dizer adeus as plantas que se
preparavam para dormir, e fui, assim, andando,encontrando-as silenciosas
e conformadas diante do inevitavel,o inverno que se aproximava
E foi entao que me espantei ao ver um arbusto estranho.
Se fosse um ser humano certamente o INTERNARIAM NUM HOSPICIO
pois lhe faltava o senso da realidade, nao sabia reconhecer os sinais do tempo.
La estava ele, ignorando tudo,cheio de botoes,alguns deles ja abrindo,
como se a primavera estivesse chegando. Nao resisti e,me aproveitando de
que nao houvesse ninguem por perto,comecei a conversar com ele, e lhe
perguntei se nao percebia que o inverno estava chegando,que os seus botoes
seriam queimados pela neve naquela mesma tarde.
Argumentei sobre a inutilidade daquilo tudo,um gesto tao fraco
que nao faria diferenca alguma.
Dentro em breve tudo estaria morto...E ele me falou,naquela linguagem
que so as plantas entendem,que o inverno de fora nao lhe importava,
o seu era um ritmo diferente,o ritmo das estacoes que havia dentro.
SE ERA INVERNO DO LADO DE FORA, ERA PRIMAVERA DO
LADO DE DENTRO,E SEUS BOTOES EM FLOR ERAM
TESTEMUNHO DA TEIMOSIA DA VIDA QUE SE
COMPRAZ MESMO EM FAZER O GESTO INUTIL.
As razoes para isso??Puro Prazer.
Ah!!TANTAS CANCOES INUTEIS,fracas para entortar o cano das armas,
para ressuscitar os mortos, para engravidar as virgens,
MAS NAO TEM IMPORTANCIA,ELAS CONTINUAM
A SER CANTADAS SOMENTE PELA ALEGRIA QUE CONTEM....,
E ha os gestos de amor, os nomes que se inscrevem em troncos de arvores,
preces religiosas que ninguem escuta, corpos que se abracam,
ARVORES QUE SE PLANTAM PARA GERACOES FUTURAS,
lugares que ficam vazios, a espera do retorno, poemas inuteis que se
escrevem para ouvidos que nao podem ouvir, porque alguma coisa vai
crescendo por dentro, um ritmo, uma esperanca, um botao pela pura alegria
, um gozo de amor. Eu me lembrei de um poster que tenho no meu escritorio,
palavras de Albert Camus
``NO MEIO DO INVERNO EU FINALMENTE APRENDI QUE HAVIA
DENTRO DE MIM UM VERAO INVENCIVEL.``
E ai a alucinacao teologica tomou conta da minha cabeca e me lembrei da velha
tradicao de Natal,ligada a arvore.
As familias levavam arbustos para dentro de duas casas;.
E ali,nveve por todas as partes, elas os fazim florescer, regando-os com agua morna.
Para que naos se esquecessem de que , em meio ao inverno, a primavera continuava
escondida em alguma parte. Inverno o frio, a neve, o silencio, a morte.
QUANDO AS PLANTAS FLORESCEM NA PRIMAVERA ALI OS HOMENS
ESCREVEM SEUS NOMES.MAS QUANDO AS PLANTAS FLORESCEM NO
INVERNO, ALI SE ESCREVE O NOME DO GRANDE MISTERIO....
Mas quando as plantas florescem no inversno, ali se escreve o grande Misterio

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